SOBRE A SEDE VACANTE
Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
Vivemos na Igreja momentos de profunda comunhão espiritual, especialmente quando atravessamos períodos de transição no ministério petrino. Seja por falecimento ou, mais relatado, por renúncia de um Papa, como ocorreu hoje com o Papa Clemente III, a Igreja entra em uma fase de expectativa e oração, aguardando a eleição de um novo Sucessor de Pedro. É claro que surjam dúvidas sobre o que acontece com a menção ao nome do Papa nas orações litúrgicas, e como podemos nos preparar espiritualmente para o Conclave. Neste texto, vamos esclarecer essas questões à luz do Magistério da Igreja.
A Instrução Geral sobre o Missal Romano (IGMR) estabelece claramente que, durante a Oração Eucarística da Missa, deve-se mencionar o nome do Papa reinante. No número 149, lemos:
"Na Oração Eucarística, deve-se fazer menção do Papa e do Bispo do lugar, com os nomes próprios: junto com o nosso servo o Papa N. e o nosso Bispo N._".
Esse gesto litúrgico é de extrema importância teológica: ao rezar pelo Papa reinante, a assembleia eucarística manifesta a comunhão com o Romano Pontífice, sinal visível da unidade da Igreja universal (cf. LG 22; CIC, cân. 333 §1).
Mas o que ocorre quando um Papa renúncia?
A renúncia de um Papa está prevista no Código de Direito Canônico, no cânon 332 §2, que afirma:
"Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie ao seu ofício, requer-se para a validade que a renúncia seja feita de forma voluntária e devidamente manifestada, mas não se exige que seja aceita por alguém."
Quando a renúncia for válida e se tornar efetiva (normalmente em data e hora previamente anunciada), cessa imediatamente a menção ao nome daquele Papa na Oração Eucarística. Não se menciona mais: “o Papa Clemente”, por exemplo, mas apenas o bispo diocesano (ou o administrador diocesano, se aplicável).
Enquanto a Sé Apostólica está vaga — período denominado "Sede Vacante" — não se menciona nenhum nome de Papa na Missa, pois a Igreja está justamente em processo de discernimento para a eleição de um novo Sucessor de Pedro.
A IGMR, n. 149, continua válida, mas sem a menção ao Papa durante este tempo, conforme a norma eclesial consolidada pela tradição e prática litúrgica. Por isso cabe a nós explicar como ficaria cada uma das menções nas orações eucarísticas:
ORAÇÃO EUCARÍSTICA I
O texto normal com o Papa é:
“... em comunhão com o nosso servo o Papa N. e o nosso Bispo N., e todos os que guardam a fé que receberam dos Apóstolos.”
✅ Durante a Sede Vacante:
“... em comunhão com o nosso Bispo N., e todos os que guardam a fé que receberam dos Apóstolos.”
🔸 Se a diocese também estiver vagante, a menção ao bispo também é omitida:
“... e todos os que guardam a fé que receberam dos Apóstolos.”
ORAÇÃO EUCARÍSTICA II
O texto normal com o Papa é:
“...com o Papa N., o nosso Bispo N. e todos os ministros do seu povo.”
✅ Durante a Sede Vacante:
“... com o nosso Bispo N. e todos os ministros do nosso povo.”
🔸 Se a diocese estiver vaga:
“... com todos os ministros do seu povo.”
ORAÇÃO EUCARÍSTICA III
O texto normal com o Papa é:
“... com o vosso servo o Papa N., o nosso Bispo N., com os bispos do mundo inteiro, o clero e todo o povo que conquistastes.”
✅ Durante a Sede Vacante:
“... com o nosso Bispo N., com os bispos do mundo inteiro, o clero e todo o povo que conquistastes.”
🔸 Se a diocese estiver vaga:
“...com os bispos do mundo inteiro, o clero e todo o povo que conquistastes.”
ORAÇÃO EUCARÍSTICA IV
O texto normal com o Papa é:
“...com o Papa N., o nosso Bispo N. e todo o povo que conquistastes.”
✅ Durante a Sede Vacante:
“...com o nosso Bispo N. e todo o povo que conquistastes.”
🔸 Se a diocese estiver vaga:
“...com todo o povo que conquistastes.”
ORAÇÃO EUCARÍSTICA V (forma opcional no Brasil)
O texto normal com o Papa é:
“...com o Papa N., o nosso Bispo N., com os presbíteros e diáconos, e todo o povo que conquistastes para vós.”
✅ Durante a Sede Vacante:
“... com o nosso Bispo N., com os presbíteros e diáconos, e todo o povo que conquistastes para vós.”
🔸 Se a diocese estiver vaga:
“...com os presbíteros e diáconos, e todo o povo que conquistastes para vós.”
Com a vacância da Sé, seja por morte ou por renúncia, entra em vigor a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, promulgada pelo próprio Papa Clemente III. Esse documento regula tudo o que diz respeito à eleição do novo Papa.
No número 1, lemos:
“O Pastor eterno [...] confiou a Pedro, príncipe dos Apóstolos, e aos seus Sucessores a missão de apascentar as suas ovelhas [...] Quando, portanto, a Sé Romana fica vacante, é de suprema importância que se proceda com rapidez e prudência à eleição do novo Papa.”
Durante este período, quem governa interinamente a Igreja é o Colégio dos Cardeais, que utiliza regras restritas, sem tomar decisões que pertençam ao Papa.
O Conclave é o processo reservado e sagrado por qual os cardeais participantes — aqueles com menos de 80 anos — se reúnem em Roma, na Capela Sistina, para escolher o novo Papa. A palavra “conclave” vem do latim cum clave, que significa “com chave”, pois os cardeais são literalmente trancados até que cheguem a uma decisão.
A Constituição Universi Dominici Gregis dedica muitos números (especialmente 46 a 78) para todo o rito do Conclave, desde o juramento de sigilo, passando pelas votações, até o anúncio final: o célebre “Habemus Papam”.
Durante o Conclave, os fiéis são convidados a intensificar a oração, como nos diz o número 86 da mesma Constituição:
“Desejo, além disso, que todo o povo cristão se una em oração fervorosa a fim de que a graça divina ilumine a mente dos participantes e torne-se apta a sua vontade para a eleição do novo Pontífice.”
Diante de um momento tão decisivo para a vida da Igreja, não podemos permanecer indiferentes. A renúncia de um Papa e a eleição de outro são graças especiais de renovação eclesial, de confiança na ação do Espírito Santo, e de intensa comunhão.
Eis algumas orientações concretas para a fidelidade neste tempo:
Oração intensa pelo novo Papa
Rezar o Rosário, fazer novenas específicas, invocar o Espírito Santo, fazer jejuns e vigílias. A oração pessoal e comunitária deve ser multiplicada.
Participação nas Missas com espírito de súplica
Embora não tenha sido mencionado o nome do Papa na Missa durante a Sé Vacante, esse silêncio é eloquente: ele nos convida a clamar, junto com toda a Igreja, para que o Espírito Santo inspire os cardeais.
Estudo e meditação sobre o Papado
Aprofundar-se no estudo do ministério petrino, lendo o Evangelho de Mateus 16,18-19, a Constituição Dogmática Lumen Gentium (cap. III), e documentos como a própria Universi Dominici Gregis.
Unidade e confiança
Evite especulações, partidarismos ou críticas infundadas. O Conclave não é uma eleição política. É um ato eclesial, espiritual, e confiamos que Deus agirá.
Logo após a eleição e a liberdade do eleito, o novo Papa assume o ministério petrino. A partir de então, seu nome deverá ser inserido imediatamente na Oração Eucarística da Missa. Vale lembrar que apenas o nome do Papa é mencionado na oração eucarística, omitindo a numeração que pode vir após o nome. Essa numeração é utilizada apenas para a contagem de quantos Papas já utilizaram o mesmo nome.
Por exemplo: Na vida real o Papa reinante é o Papa Leão XIV, no entanto na oração eucarística deve-se mencionar apenas o nome Leão, omitindo o XIV (14), pois esse número apenas informa que ele é o décimo quarto a utilizar esse nome, no entanto seu nome é Leão.
O momento da eleição é um momento de festa: é o nascimento de um novo Pontificado! É uma ocasião para cantar o Te Deum, organizar procissões, Adorações Eucarísticas e Missas em ação de graças.
A renúncia de um Papa, embora rara, é um ato legítimo e eclesialmente regulado. Cessada a menção litúrgica do seu nome, a Igreja entra num tempo de expectativa e oração. O Conclave, conduzido pelos cardeais sob a égide da Constituição Universi Dominici Gregis, é uma expressão da confiança da Igreja no Espírito Santo.
Como verdade, somos chamados a viver este tempo com fé, esperança e comunhão, conscientes de que o novo Papa será sempre, como disse o Papa Emérito Bento XVI, “um humilde trabalhador na vinha do Senhor”.
Unamo-nos, pois, em oração, certos de que o Espírito que assiste a Igreja desde Pentecostes continua a guiar com segurança e fidelidade até a vinda gloriosa do Senhor.
Salvador, memória de Santo Antônio, 13 de junho de 2025
Em Cristo Sacerdote e Maria Serva do Senhor,
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