CÚRIA METROPOLITANA
MENSAGEM DE FELICITAÇÃO
Querido Mons Victor Kernicki,
Saúde e paz.
“Em concordar a tua palavra lançarei as redes” (Lc 1, 8).
Salvador, 13 de maio
É com a alma profundamente comovida por um misto de gratidão e esperança que me dirijo a Vossa Excelência Reverendíssima, neste momento singular de sua vida e da vida da Igreja, para lhe expressar minha mais calorosa felicitação pela honrosa nomeação ao episcopado, dom concessão por Nosso Senhor através da solicitude do Santo Padre, o Papa Clemente III.
Receber a notícia de sua elevação ao episcopado — e particularmente como Bispo Auxiliar de Brasília — não apenas me alegrou imensamente, mas também me levou a contemplar com assombro e reverência o modo admirável com que Deus conduz os passos de seus servos fiéis. Ao longo do tempo de sua atuação pastoral em nossa amada Arquidiocese de São Salvador da Bahia, o senhor se fez próximo do nosso povo, verdadeiro homem de Deus, pastor segundo o Coração de Cristo, amigo das almas e promotor incansável da caridade e da verdade.
Fico a pensar em quantas graças foram derramadas sobre nós pela mediação de seu sacerdócio. Quantas famílias foram reconfortadas, quantos jovens foram inspirados, quantos corações dilacerados foram pacificados pela sua palavra serena e firme, pelo seu olhar compreensivo, pela sua presença orante. Nunca vi em Vossa Excelência senão a disposição generosa de servir, em todas as situações, mesmo quando os holofotes eram voltados para outros, e quando o peso do trabalho era seu.
O senhor foi, sem sombra de dúvida, uma das figuras mais luminosas de nossa vida eclesial nos últimos tempos. A sua dedicação, particularmente na formação do clero e no acompanhamento dos movimentos e associações leigas, marcou um tempo de renascimento espiritual para muitas paróquias e comunidades. Seu amor pela sã doutrina e sua ternura pastoral jamais se contradisseram; antes, fundiram-se em um só modo de evangelizar, que encantava pela clareza e pela proximidade com que anunciava o Evangelho.
Impossível não mencionar sua atuação junto à Associação Arautos do Evangelho , tão digna de louvor e tão necessária em nossos dias. Sei o quanto o senhor acompanhou de perto, com espírito pastoral e sabedoria espiritual, a vida dessa associação que, por sua fidelidade ao Magistério e por sua dedicação à evangelização e à liturgia, se tornou um ponto de referência para tantos fiéis. Sua presença entre os Arautos foi, para eles, verdadeiro sinal de confirmação eclesial e de afeto pastoral. Quantas vezes o vimos presidir suas liturgias com reverência e beleza! Quantas vezes o ouvimos ensinando-lhes com profundidade e esclarecendo a doutrina perene da Igreja! O senhor se fez pai para eles, e como filhos, eles o levarão sempre no coração.
Na vida eclesial de Salvador, sua atuação foi igualmente indispensável. Seja nos conselhos arquidiocesanos, nas visitas canônicas, nas ações pastorais ou nas celebrações mais simples, o senhor se mostrou incansável. Foi pastor vigilante, atento às necessidades do povo, respeitado por seus irmãos no sacerdócio e amado pelos fiéis. Nunca se envaideceu dos elogios, nem se esquivou das críticas. Tudo aceitou com humildade evangélica, consciente de que o verdadeiro serviço ao Reino se faz de joelhos dobrados, coração entregue e mãos calejadas.
Por isso mesmo, Excelência, ao saber de sua nomeação, meu primeiro impulso foi dobrar os joelhos e agradecer a Deus. Agradecer pelo dom que o senhor é para a Igreja. Agradecer pelo tempo em que tivemos a honra de tê-lo entre nós. Agradecer por sua docilidade à vontade do Pai, que o chama agora a uma nova missão. Brasília o recebe com esperança; nós, com saudade. Mas sabemos que os caminhos de Deus sempre produzem frutos mais altos, e a sua presença naquela arquidiocese será, certamente, uma bênção para todo o povo de Deus.
O múnus episcopal, sabemos, exige de quem o recebe uma vida ainda mais profundamente unida a Cristo. Ser Bispo é tornar-se sinal visível de unidade, guardião da fé, apóstolo da caridade e promotor incansável da comunhão eclesial. E o senhor, já o provou entre nós, reúne essas qualidades não como quem ostenta dons pessoais, mas como quem os recebeu do alto e os administra com temor e zelo. Temo, sinceramente, que lhe seja pequeno o título de "Auxiliar", pois sei que sua presença em Brasília será, antes, um verdadeiro alicerce.
A Arquidiocese de Salvador, por sua vez, não será mais a mesma sem o senhor. Sua partida nos toca, pois sentimos como o povo sentiu a ausência de Paulo ao deixar Éfeso, como relata o livro dos Atos: “Todos choravam muito, e, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam. O que mais os entristecia era a palavra com que dissera que não veriam mais o seu rosto.” (At 20,37-38). Mas, como o mesmo apóstolo, também nós nos consolamos na fé, certos de que a Igreja é una, santa, católica e apostólica, e que o amor em Cristo nos une, mesmo nas distâncias.
O senhor sempre nos ensinou que a verdadeira alegria do ministério está na entrega, e que a maior recompensa do sacerdote é ver Cristo formado nos corações dos fiéis. Pois bem: posso afirmar, com segurança, que seu ministério aqui formou verdadeiros discípulos de Cristo. Pessoas que se aproximaram dos sacramentos, que reencontraram o sentido da oração, que descobriram o valor do silêncio adorador, que compreenderam a dignidade da Santa Missa, que aprenderam a caminhar na vida interior. Tudo isso — repito — não por mérito seu, mas por sua docilidade à ação de Deus.
Não posso deixar de agradecer também pela atenção que sempre teve conosco, sacerdotes e diáconos. Quantas vezes fomos edificados por sua fraternidade sacerdotal! Quantas vezes fomos fortalecidos por suas palavras, pelo seu exemplo, por sua disposição em ajudar, ouvir, aconselhar! Sua presença nas reuniões do clero era sempre uma fonte de luz e de concórdia. O senhor jamais foi um simples colaborador; foi, antes, um irmão mais velho, que nos ajudava a crescer sem importância, que nos corrigia sem ferir, que nos motivava sem vanglória.
Por tudo isso, Excelência, o mínimo que posso fazer é agradecer. Agradecer com palavras que brotam do fundo da alma, e que ainda assim serão insuficientes. Agradecer pela sua vida entregue, pelo seu sim generoso, pela sua obediência, pela sua fidelidade à verdade, pela sua paciência diante dos desafios, pela sua oração constante e pela sua capacidade de nos conduzir a Cristo.
Rezo, com todo meu ser, para que Deus o abençoe nesta nova etapa de sua missão. Que Nossa Senhora, Mãe da Igreja, o cubra com seu manto de amor. Que o Arcanjo São Miguel o proteja de todo mal. Que São João Maria Vianney, modelo dos sacerdotes, interceda por seu episcopado. Que o Espírito Santo lhe concedeu fortaleza, sabedoria e conselho para edificar o povo de Deus em Brasília com a mesma dedicação com que edificou o nosso povo aqui em Salvador.
A Igreja o precisa. Os sinceros o aguardam. E nós o enviaremos com amor, com orgulho santo e com a certeza de que o Senhor continuará a fazer maravilhas através de sua vida e ministério.
Receba, portanto, esta carta como expressão da nossa gratidão e da nossa comunhão em Cristo. Vá com a vitória do povo baiano, com o carinho de seus irmãos e com o reconhecimento dos que puderam ver, ouvir e aprender com seu testemunho.
De minha parte, continuei unido em oração, intercedendo para que o senhor seja sempre um verdadeiro sucessor dos Apóstolos, um defensor da fé, um pai espiritual e um farol de luz evangélica na vida da Igreja.
Com filial apreço e profunda gratidão,
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