O múnus episcopal

   

ARQUIDIOCESE DE SALVADOR

CÚRIA METROPOLITANA

CARTA EXPLICATIVA SOBRE O MINISTÉRIO EPISCOPAL EA SUA IMPORTÂNCIA NA COMUNIDADE ECLESIAL

Prot. 092/2025

Aos presbíteros, diáconos, seminaristas, religiosos e fiéis leigos da Santa Igreja de Deus,

Com profunda alegria no Senhor e movido pelo zelo pastoral que nos é um em Cristo, escrevo esta carta para vos registrar a grandeza, a dignidade e a função essencial do ministério episcopal na vida da Igreja. Em tempos de confusão doutrinal, secularismo agressivo e fragilidade espiritual, torna-se cada vez mais necessário recordar com claro o que a fé católica nos ensina sobre a missão dos Bispos, sucessores dos Apóstolos, e o respeito que lhes é devido como pastores legítimos dos rebanhos de Cristo.

A origem do ministério episcopal remonta ao próprio Cristo, que escolheu os Doze Apóstolos e os instituiu como fundamento visível de Sua Igreja. Após a Ascensão do Senhor e o envio do Espírito Santo em Pentecostes, os Apóstolos conseguiram cumprir sua missão de anunciar o Evangelho, fundar comunidades e instituir sucessores para dar continuidade à obra de Cristo até o fim dos tempos.

Como ensina o Concílio Vaticano II na constituição Lumen Gentium , n. 20:

“Os Bispos sucedem aos Apóstolos por instituição divina: são os pastores visíveis da Igreja, e, por eles, continuam o próprio Senhor Jesus Cristo a ensinar, santificar e governar a Igreja.”

Portanto, o ministério episcopal é de instituição divina, não humana. O Bispo não é um administrador eleito pela comunidade, nem um coordenador de pastoral com função temporária. Ele é o sucessor dos Apóstolos , revestido de uma autoridade sagrada, recebido através da sucessão apostólica por meio da ordenação episcopal.

O ministério do Bispo se expressa principalmente em três dimensões inseparáveis: ensinar , santificar e governar . Tais funções não são apenas tarefas administrativas, mas expressões do tríplice múnus de Cristo — Mestre, Sacerdote e Rei — compartilhadas com seus ministros.

A primeira e mais fundamental função do Bispo é ensinar ( múnus docendi )  a doutrina da fé católica com fidelidade e autoridade. Ele é o mestre da fé , responsável por anunciar o Evangelho, preservar a integridade do depósito da fé e interpretar autenticamente a Palavra de Deus, seja escrita, seja transmitida pela Tradição.

A Lumen Gentium , n. 25, afirma com clareza:

"Entre os principais devemres dos Bispos é o de pregar o Evangelho. Com efeito, os Bispos são pregadores da fé, que conduzem a Cristo novos discípulos, e são doutores autênticos, isto é, revestidos da autoridade de Cristo, que pregam ao povo que lhes foi confiado a fé que se deve crer e aplicar à prática da vida."

A missão do magistério episcopal é especialmente necessária hoje, quando o relativismo moral e doutrinário ameaça diluir o Evangelho. Os Bispos têm a grave responsabilidade de esclarecer erros, corrigir desvios e ensinar uma doutrina de modo claro, fiel e corajoso — mesmo que isso lhes dê custe incompreensões ou perseguições.

Rejeitar a doutrina ensinada pelo Bispo legítimo é, na prática, rejeitar Cristo e a Igreja. Como ensinava Santo Inácio de Antioquia já no século I:

“Onde está o Bispo, ali está a Igreja.”

A segunda missão do Bispo é santificar (múnus sanctificandi)  o povo de Deus, especialmente por meio da celebração da Eucaristia e da administração dos sacramentos. Ele é o sumo sacerdote de sua diocese , e sua presença é fonte de comunhão sacramental e espiritual.

O Bispo é a garantia da unidade litúrgica , o responsável por garantir que os sacramentos sejam celebrados com dignidade, fidelidade ao rito e verdadeira fé. É ele quem novos padres e diáconos, consagra os santos óleos ordenados na Missa do Crisma, crisma a fidelidade, consagra igrejas e altares, e promove a santidade do clero e do povo.

A Sacrosanctum Concilium , n. 41, ensina:

“O Bispo é o sumo dispensador dos mistérios de Deus na Igreja particular que lhe foi confiada: ele é o regulador, o promotor e o guardião de toda a vida litúrgica.”

Ao santificar o povo, o Bispo conduz as almas à vida eterna, não com um poder humano, mas como instrumento da graça divina. Toda a vida espiritual da diocese tem como centro o ministério santificador do Bispo.

A terceira função episcopal é governar  (múnus regendi) a comunidade que lhe foi confiada. O Bispo é o pastor legítimo da Igreja particular (diocese) e tem a autoridade de guiar, concordar, disciplinar e conduzir a justiça no caminho da salvação. Essa autoridade não é democrática, nem autoritária, mas pastoral — uma autoridade recebida de Cristo, marcada pelo serviço e pela caridade.

O Papa Clemente recorda frequentemente que o Bispo deve estar “à frente, no meio e atrás do povo”: à frente como guia; no meio como irmão; atrás como sustentador dos fracos. Mas nunca pode renunciar à sua missão de governar com firmeza , de exercer o poder de jurisdição que lhe foi confiado pela ordenação episcopal e pela nomeação canônica.

O Código de Direito Canônico, no cân. 381, §1º, afirma:

“Ao Bispo diocesano compete, na diocese a ele confiável, toda a potestade ordinária, própria e imediata, que se requer para exercer o seu ofício pastoral.”

Portanto, o Bispo não governa por delegação de outros, mas por direito próprio, como legítimo sucessor dos Apóstolos. A adesão ao Bispo não é mera formalidade, mas parte da comunhão eclesial.

Diante da grandeza do ministério episcopal, todos os fiéis — especialmente os ministros ordenados — devem viver uma atitude de respeito, docilidade e obediência filial ao Bispo legítimo.

A aprovação ao Bispo é expressão concreta da fé católica. Não se pode amar a Igreja e desprezar aquele que foi colocado como seu pastor. Como afirma a Lumen Gentium , n. 27:

“Os fiéis devem aderir ao seu Bispo como a Igreja adere a Jesus Cristo, e como Jesus Cristo adere ao Pai.”

O presbítero, por sua ordenação, promete obediência ao seu Bispo. O seminarista, ainda em formação, aprende essa obediência como caminho de humildade e santidade. O leigo é chamado a consideração no Bispo o sinal visível da comunhão com a Igreja universal.

A desobediência ao Bispo, ou o desprezo por sua autoridade, é gravemente contrária à comunhão eclesial. A crítica injusta, a murmuração ou a indisciplina enfraquecem a Igreja e causam escândalo.

A história da Igreja é rica em exemplos de santos que amaram profundamente seus Bispos: São Francisco de Assis, Santo Inácio de Loyola, Santa Teresa d'Ávila — todos viveram em submissão filial ao pastor da diocese, mesmo quando incompreendidos.

Além da obediência jurídica, existe uma verdadeira comunhão afetiva e espiritual com o Bispo , que é expressão do amor à Igreja. O Bispo é pai espiritual de toda a diocese, mestre da fé, fonte de unidade.

Os presbíteros devem ver no Bispo quem coopera na missão. Não são meros funcionários da cúria, mas colaboradores do sucessor dos Apóstolos. Os diáconos devem ser ao seu serviço, com humildade. Os leigos devem ser rezar por ele, defender sua dignidade, e confiar-lhe os frutos de sua vida apostólica.

Recordemos as palavras de São Cipriano de Cartago, no século III:

"O Bispo está na Igreja e a Igreja no Bispo. Quem não está com o Bispo, não está na Igreja."

Diante da grandeza do ministério episcopal, reafirmamos:

  • O Bispo é sucessor dos Apóstolos, instituído por Cristo para ensinar, santificar e governar o povo de Deus;
  • Sua autoridade é sagrada, própria e imediata, e deve ser obedecida com amor e fidelidade;
  • O povo de Deus, em todas as suas vocações, é chamado a consideração no Bispo o sinal visível da comunhão com a Igreja universal;
  • O respeito, a oração, o apoio fraterno e a obediência sincera ao Bispo são caminhos seguros de santidade e unidade eclesial.

Que Maria, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos, interceda por todos os nossos Bispos, para que, iluminados pelo Espírito Santo, continuem a guiar o rebanho de Cristo com sabedoria, firmeza e caridade.

Solene Memória de São Norberto, Bispo — 6 de junho de 2025

Em Christo et Ecclesia,

  CARLOS EDUARDO CORDEIRO 
Arcebispo Metropolitano de Salvador e Primaz do Brasil

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